A vida pode ser exigente! E por isso, antes que apareçam consequências mais ou menos graves, é preciso tomar uma atitude.
O primeiro passo é identificar o estado, tendo presente que cada um tem o modo próprio de reagir. Depois, para poder ajudar alguém, temos de tentar compreender o que causa tal reação física ou mental que observamos. E para isso temos de identificar os agentes ou fatores precipitantes desse mesmo estado, caso os haja. Nesse sentido sabemos que as causas mais comuns residem no ambiente, cujas alterações determinam adaptação por parte do indivíduo; sobretudo se prolongadas (como nas situações de relacionamento social gerador de stress) ou muito intensas (como nas situações de perda, seja ela financeira, ou antes de um ente querido). E aqui pode ser útil perguntar a alguém próximo sobre possíveis mudanças, mas é sobretudo fundamental transmitir abertura e disponibilidade, sabendo escutar!
A pessoa deprimida está extremamente sensível e tende a desvalorizar-se, ficando a “ruminar” por coisas de nada, dramatizando tudo de modo pouco razoável e se isolando. E neste contexto a solidão é frequente, mostrando-se ela pouco receptiva e encarando tudo o que lhe dizem como insensibilidade e mesmo falta de consideração. O que dificulta muito a comunicação e pode tornar imensamente frustrante a tarefa de quem quer ajudar.
Saber ouvir passa por contatos regulares mostrando-se disponível, tranquilizador e compreensivo; assim inspirando confiança e deixando que a pessoa desabafe. Não é forçando a falar, ou dando “bons conselhos” de tipo “Deixe isso para lá! Isso não tem importância nenhuma, vai passar tudo num instante!”. Contestar ou tentar fazer ver que as coisas não são tão más como parecem apenas vai ser encarado como incompreensão e desvalorização de sentimento. Aos “bons conselhos”, que apenas revelam falta de empatia e afastam a pouca vontade de falar, é necessário contrapor empatia com o que a pessoa sente, mostrando-se autenticamente disponível, sem emitir juízos de valor ou fazer qualquer apreciação crítica, antes enaltecendo tudo o que a pessoa vai conseguindo fazer, ajudando-a nas tarefas correntes, etc.
Está demonstrado que o simples ato de falar, ou até mesmo escrever sobre o que se está a sentir em termos emocionais, diminui automaticamente o nível de ativação do organismo, contribuindo para aliviar os sintomas. A simples possibilidade de expressar em palavras o que se está sentindo tem um poder extraordinário. Ainda que a pessoa saiba que o que acaba de escrever é jogado fora sem que ninguém o tenha lido!
Mas mais do que permitir falar deve o apoio estender-se a outros aspetos da vida corrente, uma vez que este tipo de perturbação afeta a capacidade de realizar até as mais pequenas tarefas triviais do dia a dia.
Porém, quando a ajuda não é suficiente e, inconscientemente, as pessoas começam a sentir que o auxílio não é bem recebido, parecendo inútil, então tendem a afastar-se. E se até familiares e amigos próximos começam a demonstrar que “para males já bem bastam os meus”, então o melhor será recomendar ou procurar apoio profissional especializado, pois só mesmo uma intervenção diferenciada poderá verdadeiramente ajudar a superar a situação.
Se você sentir que a possibilidade de ajudar deve ir além, oriente a busca especializada; até para prevenir um desfecho trágico, mas sempre possível, como o suicídio. E neste aspeto ajudar passa por nunca pôr em causa a eventual necessidade de ajuda especializada, mas mais do que isso por se oferecer para acompanhar o paciente às consultas, ajudá-los com as eventuais medicações prescritas (seja lembrando e verificando a regularidade), e mesmo procurar inseri-los em grupos de apoio, caso isso seja considerado.